{Resenha} ~ Lute como uma Garota - Laura Barcella & Fernanda Lopes ~

Oi  gente, tudo bem com vocês? 

Eu acredito que já está bem claro que sou feminista. Sempre acreditei em igualdade, porém nunca havia buscado saber mais sobre o movimento feminista. Isso ocorreu muito recentemente.

Claro que minha curiosidade acabou por ser aguçada. Mesmo conhecendo a história dos avanços que nós mulheres conquistamos com o passar dos anos, queria saber como chegamos até aqui e quem contribuiu para tal. Além disso, mesmo com todos esses avanços, ainda temos grandes problemas a ser enfrentados, e também queria saber quem dá as caras para o feminismo atual.

E foi por isso que quando o livro Lute como uma Garota foi lançado, o desejei com força. Hoje vou contar sobre minha experiência com a leitura.

Detalhe importante: não é um livro feminista. É uma obra que retrata mulheres que, de certa forma, mudaram o mundo.

"Uma multidão de mulheres, uma massa infinita delas, veio antes de nós nos abrindo caminho para ser. Para votar, para transar, para usufruir (ou não) da maternidade como bem entendermos. Para trabalhar, para vivermos livres de violência. Para escrevermos livros e celebrá-las. Elas nos deram o presente incalculável da voz. Devolveram-nos o direito inalienável de olhar os homens nos olhos, de enfrentá-los como um gesto corajoso de amor pela humanidade."

Skoob

Título: Lute como uma Garota

Autoras: Laura Barcela & Fernanda Lopes

Editora: Cultrix

Páginas: 368

Avaliação:

Onde Comprar? Amazon | Saraiva

É muito difícil resenhar essa obra. E a dificuldade se dá pelo fato dela ser demasiadamente incrível. A começar pela edição. 

O livro foi elaborado de uma forma prática, dividido em duas partes: a primeira mostrando 45 perfis de mulheres importantes no cenário mundial e a segunda mostra 15 perfis de mulheres importantes no cenário nacional.

"(...) Elas são as artistas que souberam transformar suas lamúrias em conquistas. E nos dizem, nas páginas deste livro: você também pode ser heroica. Porque ser uma mulher que transforma o mundo, hoje, não exige nada menos que heroísmo."

Em cada perfil, que é disposto retratando mulheres por data de nascimento (das mais velhas para as mais novas), tem-se um padrão, colocando seu nome, ano de nascimento (e morte quando o caso), o por quê dela merecer a fama, seu país de origem, seu legado bem como sua história, suas grandes realizações e frases famosas. Algumas ainda temos ilustrações e curiosidades.

Temos uma diversidade de mulheres. De épocas diversas, de diversas etnias, classes sociais, religião, orientação sexual, escolaridade; algumas que sofreram na pele a violência por serem mulheres, outras que sofreram ainda com o preconceito racial. Ainda temos aquelas que não vivenciaram eventos violentos, porém se compadeceram e lutaram fielmente contra eles.

O mais interessante é que nem todas essas mulheres se consideravam feministas. Aliás, o feminismo se dispõe de várias formas aqui. Algumas são extremistas, outras não, e ressalto: outras tantas nem mesmo se diziam feministas.

A principal característica que nos faz enxergar um senso comum em todas elas, era um único pensamento (a base do feminismo): o da igualdade.

Eu passei a ler mais sobre o movimento muito recentemente, e por isso já conhecia a história de muitas mulheres citadas na obra, principalmente considerando o cenário nacional. Mas mesmo assim, coletei informações inéditas. 

Desconhecia a história da maioria disposta. Foi sensacional conhecer as precursoras, como por exemplo Mary Wollstonecraft que ainda no século XVIII já acreditava na igualdade e lutava pelo direito à educação das mulheres. Obteve conquistas, mas mesmo depois de morrer, foi duramente criticada.

Também temos mulheres que nasceram escravas e conseguiram se libertar. Elas podiam usar sua liberdade para qualquer coisa, mas preferiram lutar pela liberdade de outras, como Sojouner.

"Não sou eu uma mulher? Olhe para mim! Veja o meu braço! Já manejei o arado, já plantei, já guardei a colheita nos celeiros, e nenhum homem conseguia chegar na minha frente! Não sou eu uma mulher? Podia trabalhar tanto quanto um homem, e comer tanto quanto um homem - isso quando eu tinha o que comer -, e suportar as chicotadas também! Não sou eu mulher? Tive treze filhos e vi muitos deles serem vendidos como escravos, e, quando chorei com minha dor de mãe, só Jesus me ouviu e ninguém mais! Não sou eu uma mulher?" - Soujouner

Temos mulheres pioneiras em profissões consideradas, até então, específicas para homens. Como Elizabeth Blackwell, a primeira mulher a se formar em medicina.

Temos ainda as figuras já muito conhecidas, como Frida Kahlo e Simone de Beauvoir.

Mesmo as histórias já conhecidas por mim, me surpreenderam. Por exemplo, a de Rosa Parks. Uma simples costureira que ganhou fama a se negar a ceder seu lugar no ônibus para um branco (na década de 50, no Alabama, o transporte público ainda continha bancos reservados para brancos e negros - sim, um absurdo). E ela foi presa por isso. O que eu não sabia era que Rosa Parks fez muito liderando a luta contra o ódio e o racismo.

"Defenda alguma coisa, senão você sucumbirá a qualquer coisa. O poderoso carvalho de hoje é a noz de ontem que conseguiu resistir." - Rosa Parks

As brasileiras citadas também são de extrema importância na luta dos nossos direitos. Temos uma visão da sua importância na conquista ao voto e a liberdade de expressão, por exemplo. Temos nomes como Clarice Lispector. E não posso deixar de citar nomes importantíssimos que ainda lutam muito em nosso cenário por nossos direitos, como Maria da Penha e Djamila Ribeiro.

As autoras foram fundo, cavucando bibliografias e ao mesmo tempo, acrescentando comentários em cada perfil. Conseguimos sentir a vibração das autoras em cada história. É muito rico, empoderador e muito gostoso em ser lido. 

É um tanto que triste concluir a leitura e chegar à conclusão que o machismo continua inserido de forma constante nos dias de hoje. O mesmo machismo que mulheres do passado enfrentou ao expor o direito à igualdade ainda é enfrentado pelas mulheres de hoje. E é mais triste ainda constatar que o feminismo, mesmo com tanta evolução e conquistas, ainda é tido como um disseminador de ódio. Seu objetivo é completamente convertido. 

Em tempos atuais, a obra é de extrema importância para mostrar a verdadeira face do feminismo, suas conquistas e o quanto ainda é necessário se manter presente. Eu posso resumir como um livro inspirador.

"O feminismo não é, e não deve ser, algo tipo "tamanho único" - hoje em dia há mulheres de todas as religiões, raças, porte físico, etnia, origem e orientação sexual em sintonia com o feminismo, e é assim que deve ser. Para ajudar a realizar mudanças para todas as mulheres, o feminismo precisa ser amplo e inclusivo ao máximo. Precisa alcançar muito além das preocupações das mulheres brancas de classe média, de corpo saudável e cisgênero."

Pra mim, a leitura teve um significado abarretador: o de não deixar a luta de todas essas mulheres ser em vão. É preciso dar continuidade, cada uma a seu modo.

"Você mesma pode definir qual é o seu feminismo."

Por que você deve ler? Nos apegamos a tantas personagens fictícias, que foram "inventadas" para se destacar numa trama "faz de conta". Que tal nos apegarmos a personagens reais, que se destacaram no cenário do mundo real?

Foi um prazer ler o livro, recomendo, e espero por mais publicações do tipo pela editora.

Espero que tenham gostado.

Beijos!